segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Cores Demais

Um dia branco é uma tela vazia à espera de cores que possam preenchê-lo. Mas o dia branco é melhor quando permanece assim até o fim. Olhar pro céu e não ver o azul ali presente me faz respirar tranquilamente. Cores demais não servem para mim. Algumas tonalidades no entanto são essências à minha felicidade. Uma música azul. Um filme verde. Uma lembrança cinza. Uma fotografia cor-de-passado. E o céu branco. O céu de cor branca é uma oportunidade de desaparecer em você mesmo. Uma chance de se concentrar em nada e sentir como se fosse tudo. Um céu branco é um céu sem ilusões. Sem o azul costumeiro, o céu não te promete algo além do que você espera. Sem o cinza das tempestades, o céu não te ameaça nem te angustia com as torrenciais chuvas de solidão. Mas as cores do pôr-do-sol, estas sim são traidoras. Te enchem de uma esperança na beleza do que nem existe. Uma imagem da felicidade não concretizada; do sonho impossível de voar; do gosto intragável da ilusão. É como uma poesia que é linda apesar de ser tão triste, tão real apesar de impalpável. E logo depois vem o céu negro de incertezas, com pontos luminosos de cansaço, onde se encontram todas as cores. Todas as cores que são demais pra suportar olhar de uma vez só. A verdade é que o branco me faz esquecer que tenho coisas demais pra pensar e sentir. É como uma pausa mais do que justificada num mundo onde é tudo ao mesmo tempo agora. Eu não tenho certeza de que sou daqui. Nem que pertenço a esse tempo ou a essa condição da existência humana. Eu só tenho certeza de que nada mesmo é certo ou errado nesse mundo. Tenho aprendido porém que há o que faz bem e o que faz mal. E como são infinitas as coisas que fazem mal, e como faz mal todo esse mal que é feito. E como nada é preto ou branco. E como o branco do céu me deixa em paz. E que cores demais atrapalham minha visão.