terça-feira, 3 de março de 2015

Decifra-me ou...deixa pra lá.

Um anoitecer comum, um despertar diferente. É assim, como um rio que muda o curso de repente, que segue minha vida. Não porque eu queira, nem porque preciso. Só acontece, como acontece pra alguns, como nunca irá acontecer pra outros. É inútil tentar explicar pra quem nunca teve seu curso desviado, pra quem nunca ficou preso pela pedra no sapato, pra quem nunca perdeu o fôlego e continuou vivo. Não é medo de altura, não é medo de monstro nem da violência do dia-a-dia. É medo de acordar e ver que nada mudou. Ou ver que tudo de repente pode mudar. Medo de viver repetindo o mesmo dia todos os dias. É medo de não poder ouvir além do barulho das pessoas. Medo de repetir o que todos andam dizendo por aí. Medo de perceber que, de uma hora pra outra, você, que era tão especial, virou poeira de estrela. Não pelo ego, mas pela falta de proteção. É nascer de parto anormal e não saber nadar contra a correnteza. E fingir não ver os mortos-vivos. E fingir que não é um deles. É o cinza que se espalhou pelo céu acima da sua cabeça. São as nuvens de lágrimas que molham o terreno fértil de dúvidas que é a sua mente. E a insistência em ser normal, quando ser normal é a maior esquizofrenia da qual se tem notícia. Pensar que se é saudável por questionar a tudo e a todos só vale pra quem também se questiona. Pro resto do mundo, você é a doença negativa que "vive a reclamar do dia que virá". Se é preciso cura pra amordaçar os pensamentos, tratamento de choque pra suavizar as emoções e incontáveis comprimidos pra por um sorriso no rosto, então doente é o mundo em que vivemos. Não posso dançar a música que tocam, então me cortam as pernas. Não consigo ver aquilo que todos gostam, então me tiram a visão. Não gosto de pensar que está tudo bem, então apagam minhas memórias. É um viver insosso o dos nossos tempos. É uma alegre efêmera, uma tristeza passageira, uma vida cada vez mais ligeira. Nascemos, não vivemos e morremos. Somos poeira que o vento leva e ainda assim, queremos ser maiores que tudo. Diante de tamanha pequenice, é a vida quem ri por último. Não sei quem sou e não estou aqui pra descobrir. Mas sigo na jornada que é ver meus dias escorrendo pelas minhas mãos enquanto o dia em que nada disso terá mais importância chegará. Até lá, talvez o lobo pare de bater à minha porta...