domingo, 21 de julho de 2013

Mais uma de milhares como esta.

Eu sou o caos. Sou a bagunça da estante, a toalha molhada sobre a cama, o quadro fora do lugar. Eu sou a sujeira embaixo do tapete, a poeira que recobre os móveis, a caixa cheia de memórias vazias. Sou o lixo não recolhido, o lodo dos azulejos, a ferrugem do portão. Sou a papelada inútil, a cinza de todos os incêndios, o mofo da parede. Eu sou a metade dos seus problemas e a solução de quase nada. Eu venho para quebrar, desorganizar, equivocar. Eu me arrasto pra fora de você o tempo todo, mas sempre volto correndo. E isso porque eu sou as seringas descartadas no lixo, os copos quebrados e os cabelos no ralo do banheiro. E também sou as orelhas dos livros, as borras de café no fundo da sua caneca e as folhas caídas no quintal. Eu atinjo e aflijo com a mesma intensidade. Mas também passo despercebida por entre tantos que também seguem, que vão por aí. Ai de mim se fosse pelo menos uma dessas coisas! Dentre todas as coisas que se pode desejar ser, ser eterno é a maior delas. Quero, assim como você, correr em direção contrária ao meu destino de ser humano, um destino que nem existe; uma existência que é passageira e efêmera, dura menos que o lodo, a ferrugem e as cinzas. Vale menos que a poeira, as folhas e o lixo. Não se iluda! Sobre todas as coisas que fazemos, a maior delas é fingir. Fingimos que somos isso ou aquilo, de um jeito ou de outro. Fingimos que nos importamos porque se não nos importarmos, quem o faria por nós? Certamente ninguém. E então o grande espetáculo que é a vida, estaria ameaçado, sem plateia, sem bilhetes vendidos, sem aplausos, lágrimas ou sorrisos. Atuar é importante. Acreditar, nem tanto. Dar continuidade ao caos, sem nem ao menos saber o porquê. Faça-o. Viva-o. E finja que é preciso. Dia após dia.

domingo, 14 de julho de 2013

Mais que ver, sentir. Mais que falar, ouvir. Fechar os olhos pro resto do mundo pra poder se enxergar. Quão raro é o seu tempo? E por quanto tempo vai durar? Acho que não será o bastante pra eu poder acreditar. Queria aceitar como é, sem questionar. Tentar não compreender o porquê, apenas receber o que vier e agradecer. Mas eu sou uma mente inquieta, de coração acuado e alma cansada. Ás vezes falta muito pouco pra eu jogar tudo pro alto, pra ter certeza de que na verdade nada me pertence. Nada nos pertence. Nós é que pertencemos a este mundo, onde permanecemos por um breve tempo entre o nascimento e a morte, chamado vida. E quando não somos mais úteis, somos descartados, tal e qual fazemos com o lixo nosso de cada dia. O que dói é a sensação de que somos essencialmente nada. Um bando de nadas em busca de tudo. Eu quero acreditar que no mundo do meu jeito, pois só assim é possível viver. Dizem que você precisa seguir algumas regras pra conviver, mas que outra perspectiva eu terei da vida se não a minha própria? Só posso responder pelas minhas experiências, pelas minhas vivências e sensações. Empatia sim, sempre. Mas ainda serei eu, respondendo pelo que sei. E, sabemos, não sei nada. Não sabemos e nunca saberemos. Hei de entender. Hei de aprender. Hei de aceitar. Hão de mudar. Hão de acordar. Hão de perceber. Há de perdoar-nos, pois não sabemos que estamos fazendo. São mais que reflexões as palavras que aqui eu sopro. É minh'alma refletida. Quando me abro, parto em pedaços que algum um dia há de recolher. E se não recolherem, que me varram pra bem longe, onde precisem de poeira. De poeira de estrela. Um lugar onde sonhar com o impossível seja permitido.