terça-feira, 19 de agosto de 2008

Como destruir as esperanças de uma criança

A menina cresceu ouvindo gritos, choros e outros sons muito feios para os seus ouvidos. Ela vivia se perguntando o por quê de tudo isso. E sempre sentiu que a culpa era dela. A menina chorava também. Mas a menina não queria que fosse assim. Na verdade ela não entendia nada. Mas ela queria se desculpar por ser o motivo de tudo aquilo. Será que ela era mesmo? Todas as suas notas eram boas. Boas não, ótimas. Ela sempre dizia que ia ser rica e ter sucesso. Ela sempre fazia tudo direito; na escola e em casa. A única coisa que ela não conseguia, porém, era a atenção de sua mãe. Sua mãe estava muito ocupada procurando telefones no bolso de seu pai. De madrugada ela só queria que a mãe estivesse por perto. Mas a mãe como sempre estava à procura de seu pai pelas ruas frias da cidade. A menina queria ser bonita também. Quem sabe assim seu pai também a amasse de verdade. Mas tudo o que seu pai sabia fazer era procurar as mulheres bonitas da rua. A menina não era bonita. Ela nunca seria. E ela também nunca seria amada por sua mãe como ela gostaria. Porque sua mãe sempre estaria pensando em seu pai. A menina consolava o choro da mãe. E achava que tudo aquilo acabaria. Muitas vezes ela disse pra mamãe: "Eu vou estar sempre com você. Vamos embora. Vamos recomeçar." A menina ainda tinha alguma esperança de que o mundo seria bom. Mas o tempo passava e nada mudava. A menina sempre se esforçava. Ela era a melhor aluna. Mas a mãe nunca ligou pra isso. A mãe só queria mesmo saber por onde andava o pai. E quando o pai tava em casa a menina era ainda mais infeliz. Quando não brigavam, a mãe não podia se separar dele um minuto. E a menina tinha que fingir que era forte e continuar pensando no futuro. Aquele futuro melhor que a cada dia ficava mais distante. Um dia ela levantou e sonhou com seu tão esperado futuro. Tudo o que ela viu era cinza e não tinha gosto bom. Então ela se deitou de novo pra sonhar um sonho bom. Tudo que ela conseguia pensar era que ela não queria mais ser parte daquilo. Ela tentou apagar sua vida com alguns comprimidos com destino ao paraíso. Passagem só de ida. Mas o vôo foi cancelado quando ela conseguiu abrir os olhor mais uma vez. E ela odiou todos aqueles anos em que ela passava tentando sonhar com seu grande futuro melhor. Então decidiu que não seria mais nada pra ninguém. Suas notas caíram, seus objetivos sumiram e seus sonhos foram apagados para sempre. Agora a menina vive um dia de cada vez, sempre esperando que o próximo seja o último. Hoje ela se sente como sempre foi: um nada. Um acidente sem importância. Um ser não desejável. Hoje ela é o que sua mãe sempre achou que ela era. Hoje ela é algo não planejado do qual sua mãe não conseguiu se livrar. E até hoje ela se pergunta: por que ela não conseguiu? Por que?

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